quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tentando recriar a natureza (2)


Para  maior credibilidade da nossa postagem anterior, reproduzimos matéria publicada nesta data no portal Cleber Toledo, com a opinião da professora doutora Iracy Coelho de Menezes Martins, da Universidade Federal do Tocantins.

Projeto de safari africano no Jalapão é “lunático”, afirma pesquisadora da UFT

Raimunda Carvalho - da Redação

O projeto que prevê a criação de um safári africano no meio do Estado, em pleno Jalapão, foi definido como “lunático” pela professora Iracy Coelho de Menezes Martins, do curso de Engenharia Ambiental, da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Ela é doutora em Ciência Florestal, na linha de Avaliação de Impactos Ambientais e Recuperação de Áreas Degradadas.

Segundo a dra. Iracy, até o momento não sabe quem são as pessoas que “lunaticamente resolveram elaborar um projeto desta natureza”. “Para mim, este projeto é completamente inviável. Não iremos ficar quietos, nós iremos fazer alguma coisa. Sou professora do curso ambiental e sou responsável pelos engenheiros que estão no mercado de trabalho e pelos futuros profissionais. Não iremos ficar calados diante de situação tão arriscada quanto este empreendimento”, avisou.

Dra. Iracy afirmou que nunca ouviu falar da empresa que ficará responsável pela infraestrutura do projeto. “Nunca ouvi falar e até gostaria de conhecer para que possamos trocar ideias. Como cientista, precisamos de pareceres científicos para dizer se pode ou não trazer estas espécies para o cerrado tocantinense. O cientista sabe das relações ecológicas entre animais, das possíveis transmissões de doenças e mutações genéticas que podem ocorrer. Não sei nada da empresa”, reforçou.

A professora, que também é mestre em ecologia de paisagem, afirmou que a proposta do safári passa pelos aspectos sociais, econômicos e ambientais. “O que mais chama atenção neste contexto são os aspectos ambientais, porque a sugestão de introduzir espécies exóticas no Brasil não é permitida pela legislação ambiental. É proibida a importação destes animais”, destacou, como havia dito também o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Joaquim Henrique Montelo Moura.

Para ela, o projeto apelidado de Out of Africa Brasil, é inviável. “Imagine trazer espécies de um continente - que é dividido em diversas regiões fitoecológicas, que se transformam em habitat natural de uma determinada fauna - para juntar em um ambiente único, como é o caso do Jalapão”, criticou, enfatizando que a proposta divulgada para o safari prevê que sejam trazidos elefantes, leões, leopardos, búfalos, rinocerontes, zebras, hienas, kudus e impalas para “juntar em um ecossistema frágil como o Jalapão”. “Como vai ficar isto em termos da cadeia alimentar? Quais são as espécies florestais ou vegetais para os animais herbívoros? E a dos carnívoros? Eles dizem no projeto que vão fechar 100 mil hectares para acomodar mais de 400 animais de 17 espécies, para que eles vivam soltos. Como vão impedir que os animais saiam deste local?”, questionou.

Ela continuou questionando. “Estas espécies vão se alimentar dos nossos gados? Dos nossos fazendeiros? Dos proprietários de terra que serão desapropriados? A girafa se alimenta do que? As árvores do Jalapão tem porte baixo. Não c
onsigo imaginar a quantidade de impacto que aquela área poderá sofrer? Indagou a professora, acrescentando que projetos desta dimensão não existem em outra localidade do planeta. Ela voltou a afirmar que o ecossistema do Jalapão é frágil. “Claro que o ecossistema não suportaria esta situação. Já houve situações com um grande número de pessoas, agora imagina vários elefantes. Por que tirar os animais de lá e não aproveitá-los no habitat de origem?”, protestou.

O projeto é de autoria do ex-secretário de Saúde do Tocantins, Nicolau Esteves.

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