terça-feira, 30 de outubro de 2012

O tempo e a verdade

São raras as vezes em que nos deparamos com textos tão significativos e profundos como o que está reproduzido abaixo.

Trata-se de A QUINTA DIMENSÃO de autoria do médico, escritor e artista plástico catarinense Mário Gentil Costa.

Leia-o com atenção e quando alguém lhe falar de passado, presente e futuro ou mesmo lhe pedir um tempo, faça uma reflexão.

A QUINTA DIMENSÃO

Mario Gentil Costa

O Tempo, segundo Einstein, é a quarta dimensão do espaço. Trata-se de uma grandeza relativística, capaz de curvá-lo na velocidade da luz e até gerar buracos negros. Ele não passa; simplesmente aí está…, como estão as outras três que, há mais de dois milênios, foram enunciadas por Euclides e incorporadas definitivamente aos fundamentos da geometria clássica.

Ao contrário do comprimento, da largura e da altura, ele não é percebido fisicamente pelos nossos sentidos. Olhamos ou tocamos um objeto e, imediatamente, somos capazes de lhe determinar, mesmo a grosso modo, a forma, o peso, o tamanho, a cor, a consistência. O Tempo, dir-se-ia que é ultra-sensorial. Temos, quando muito, uma vaga consciência de sua presença a nosso redor. É tão relativo que parece arrastar-se quando vivemos momentos difíceis; voa célere, todavia, se a ocasião é prazerosa. Olhado de frente, se nos afigura como futuro. Visto de costas, já é passado e se perde nas brumas do horizonte da memória. Em sua essência presente, contudo, não passa do instante.

Medimo-lo convencionalmente ao observar a aparente regularidade dos movimentos do Universo mais próximo…, como o nascer do Sol, as fases da Lua, as estações do ano, as horas do dia… Mas esse é apenas o nosso Tempo…, o Tempo humano…, um mero calendário antropocêntrico…, quase um artifício…, tão relativo, que logo ali…, em Júpiter…, cuja rotação dura dez horas das nossas… e cuja translação dura doze anos dos nossos…, de nada mais vale como relógio cósmico.

Nosso Tempo é todo ele composto de momentos que se sucedem entre duas colossais perspectivas: o passado que passou e o futuro que virá. É o presente…, algo sem dimensão…, como um ponto geométrico que só existe na imaginação.

O passado está na idéia que acabo de expressar; o futuro, na que virá em seguida. E entre os dois estamos nós, caro leitor…, eu e você…, vivendo, um após outro, os nossos momentos… O passado é, simplesmente, uma lembrança…, alegre, triste ou inexpressiva…, que ficou ou se perdeu. O futuro é o que será…, um misto de esperança, medo ou indiferença…, mas, de qualquer forma, uma expectativa…, uma incerteza…, uma interrogação.

E assim vive o ser humano, de momento em momento, espremido entre duas verdades imutáveis: a que foi e a que virá. Ele pensa que se auto-determina…, que tem livre arbítrio…, ignorante e esquecido de que está sempre ao sabor do acaso…, esse mesmo acaso que, tola e vaidosamente, resolveu chamar de “destino”, como se além do Caos Universal, que regula e organiza tudo, houvesse realmente algum tipo de predeterminismo individual…; como se fosse ele…, exclusivamente ele…, – o homem -, a figura indispensável e central do espetáculo.

Seu poder de decisão é mínimo…, quase nulo. Pouco maior que o de uma folha solta ao vento, que flutua e dança ao léu sem saber aonde vai cair no momento em que se extinguir a energia que a embala. E quando isto acontece, o que resta, em última análise é nada mais que a Verdade…, a Verdade do que foi…, do que é…, do que será… A Verdade…, uma estranha e insondável espécie de quinta dimensão…, que é eterna, imutável…; que interage com o Tempo na síntese total.

Muito antes de que o pensamento humano existisse, ela, a Verdade, já existia, e quando a humanidade, como substância, desaparecer ou se transformar em massa ou energia – como descobriu Lavoisier e, de fato, acontece a todas as formas de vida evolutiva – a Verdade continuará existindo no Espaço e no Tempo como atributo imanente do Todo.

A Verdade…, essa sim…, é preestabelecida por ser eterna…, ao contrário da mentira, da falsidade, da traição…, que nasceram com o ser humano…, geradas na sua própria imperfeição; com este mesmo ser que se dizendo “criado à imagem e semelhança de Deus”…, é o único animal que mente e que trai.

A Verdade é filha da Ética…, da Lógica…, nunca da força ou da autoridade. Ela é sinônimo da perfeição estética. O fato só acontece para confirmá-la e, mesmo que não aconteça…, que não seja registrado…, ela sempre prevalece, ou encerrada em si mesma…, em sua essência…, ou dentro da consciência de cada indivíduo, num plano mais pessoal. Mas ela é uma só; é o ideal pleno a que todos aspiram sem jamais alcançar.

Daí seu imenso desafio: a busca e o encontro da Verdade. Irremediavelmente condenado a viver o seu momento fugaz…, preso e contido entre o passado e o futuro, e, o que é pior, reprimido por suas próprias limitações e cada vez mais deslumbrado, a procurar em vão o entendimento do infinito e do eterno…, ele se vê sufocado diante da Verdade que sabe que existe e não é capaz de absorver, rendendo-se, finalmente, à única alternativa que lhe sobra: a crença.

Vez por outra…, de quando em quando…, a Natureza, que se auto-regula com a sabedoria ingênita de que só Ela é capaz…, deixa nascer um gênio para dar um salto adiante. Tal indivíduo…, que infelizmente é muito raro…, gravita numa órbita escassamente povoada, habitada exclusivamente por iniciados escolhidos cuja tarefa primordial é a gradativa elevação do homem, a fim de torná-lo merecedor dos privilégios de que desfruta entre os animais da Terra.

O gênio é o embaixador da Verdade. Mas…, lá no íntimo…, ele também sabe… por uma incômoda e indisfarçável intuição…, que, por mais que avance em sua busca incessante…, a Verdade Final…, aquela que existe por si mesma e independe das nossas crenças…, a Verdade Verdadeira…, fugidia como a linha do horizonte…, sempre estará além do seu alcance.

Texto extraído do JBF - www.luizberto.com

Um comentário:

  1. Tempo, tempo, tempo, tempo, tempo.....Compreendi que pra ser feliz basta querer.
    Aprendi que o tempo cura.Que mágoa passa.
    Que decepção não mata e que hoje é reflexo de ontem.
    Compreendi que podemos chorar sem derramar lágrimas.
    Que os verdadeiros amigos permanecem.
    Que dor fortalece... Que vencer engrandece.
    Aprendi que sonhar não é fantasiar.
    Que a beleza não está no que vemos, e sim no que sentimos!

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